Le Mutazioni
de Carlos Conceição
18ª Festa do Cinema Italiano 2025
Portugal, 2025, 21', Legendas Português, Ficção Científica
com McCaul Lombardi, Elina Löwensohn, Joana Ribeiro, Jenna Thiam, Alba Batista
Em homenagem ao Federico Fellini.
Uma bela e talentosa ex-bailarina tem vindo a retocar regularmente o seu rosto e corpo por via cirúrgica desde que abandonou a sua carreira após ter partido ambos os tornozelos a dançar. Um dia conhece o "analista de detritos", Denver Blake, um ecoterrorista excepcionalmente inteligente mas paranóico, que tem tentado denunciar as instituições que forçam ideais de perfeição ao subconsciente das pessoas, fazendo-as sentir-se desajustadas e desviando a sua atenção do risco iminente de desastre ecológico. Contudo, ele não só desenvolve uma compreensão tendenciosa da cirurgia cosmética enquanto resistência contra o domínio dos media, mas também um fascínio crescente por tecidos cicatrizados e corpos cirurgicamente transformados. Vê-os agora como "os totens e evangelhos da pós--civilização". A aliança entre estas duas personagens será altamente romântica mas cada vez mais catastrófica.
Esta nova curta-metragem de Carlos Conceição surge no contexto de uma homenagem ao grande realizador italiano Federico Fellini encomendada pelo Istituto Italiano di Cultura di Lisbona.
Acompanhamos um trio de personagens que se perde, por tédio, na busca pela perfeição física através da cirurgia estética, apenas para se enquadrarem com mais segurança na vida nocturna que tanto lhes dita a existência (La Dolce Vita) e na busca do amor que parece sempre condenado a ser um sonho impossível (As Noites de Cabiria).
A expressão felliniano surgiu e é usada – muitas vezes em circuitos exteriores àqueles ditos cinéfilos – para descrever uma estirpe específica de grotesco, aquela que se encara com consciência performática, associando-se ao estado de sonho para dar ao espectador um universo que está dentro (e é sobre) uma determinada noção de espectáculo.
Para Fellini, esse espectáculo e a própria vida confundem-se.
Este filme é simultaneamente uma aproximação ao e um afastamento do universo felliniano na sua atmosfera e iconografia, fazendo uso de algumas ideias que são transversais a diversos filmes do realizador: continua a dissertação felliniana sobre o social-grotesco, sobre a sensualidade polimorfa, sobre o sonho enquanto dimensão que se sobrepõe à realidade e a redirecciona, de maneira a criar uma paisagem onírica mas de contornos urbano-industriais, numa abordagem que se aproxima mais da ficção científica do que do naturalismo contemporâneo.
Uma viagem no tempo, mas para uma dimensão desconhecida.
Como acontecia em outras obras do maestro de Rimini, tais como La Dolce Vita e Toby Dammit, este filme mostra um crescendo de absurdo associado a um crescendo de desespero a coexistirem nas mesmas festas caseiras, continuando em derivas nocturnas e terminando em tristes amanheceres. Este caminho está inquestionavelmente próximo da nossa geração, não deixando de ser o pilar transversal de toda a obra de Federico Fellini.