Curadoria: Da Luz Collective

Da Luz Collective é um coletivo internacional de curadores que actua em Lisboa, interessado na reflexão, na crítica da visão e do visual na produção artística contemporânea. O grupo é composto por Filippo De Tomasi, Kasia Sobczak - Wróblewska, Mattia Tosti e Orsola Vannocci Bonsi.

Curtas-metragens, duração total: 65'.

La camera (2006) - 12'
Dois atores, situados numa colina e enquadrados por uma falsa perspetiva de madeira de uma sala desenhada, reproduzem em playback as vozes dos entrevistados que ouvem nos seus auscultadores. As pessoas entrevistadas são questionadas sobre as suas memórias televisivas e as entrevistas são intercaladas com excertos de noticiários dos anos 50 e 60 sobre a chegada da televisão como acessório doméstico normal.

Cancan! (2004) - 3'26''
Um homem na cozinha disfarça-se de mulher idosa e dança ao som do Can Can de Jacques Offenbach de uma forma desenfreada. Existe assim um duplo disfarce, porque debaixo da roupa da senhora idosa aparecem as roupas típicas das loucas dançarinas francesas. 

The picture of ourselves (2013) - 3'
A memória é um elemento fundamental na pesquisa de Rä di Martino: no vídeo "The Picture of Ourselves", a artista projeta-nos na atmosfera despreocupada da infância, que se torna um aviso para a vida adulta. Um primeiro plano de uma menina com rosto angelical transforma-se num grande plano em que um homem é revelado segurando-a pelas pernas, tornando-lhe possível balançar de cabeça para baixo. A posição invertida, que nada mais é do que uma mudança de perspetiva, sugere a pretensão de ser outra pessoa, como ocorre na infância, filme ou ficção, mas também se encontra na décima segunda carta dos arcanos maiores do tarot, a do enforcado.

Red shoes (2007) - 4'45''.
Filmado em 16mm, é uma única panorâmica de uma paisagem de conto de fadas: debaixo de uma cascata numa floresta noturna, dois rapazes beijam-se. Ambos são muito jovens, naquele momento da vida em que ainda se é criança mas já se é adolescente.

Copies récentes de paysages anciens / Petite histoire des plateaux abandonnés (2012) - 8'24''.
Marrocos foi sempre considerado um local ideal para o cinema. Os mais diversos contextos ambientais e culturais têm sido recriados no seu deserto: dramas históricos como "Lawrence da Arábia", filmes de terror como "Le colline hanno gli occhi", até ao premiado "Kundun". O que resta destas grandes produções? Que legado é que deixaram no território? "Petite Histoire des Plateaux abandonnée" é uma viagem através destes cenários de filmes abandonados, mostrando a sua decadência biológica. O que parecem ser "ruínas antigas" são na realidade conjuntos meio destruídos, onde os habitantes do deserto recitam o diálogo a partir desses filmes.

Poor Jerry (2017) - 7'
Um velho Jerry cansado, da série animada de Hannah e Barbera Tom e Jerry, caminha por uma paisagem desértica chorada pelo vento. Jerry, aqui animado digitalmente, recita uma longa série de frases sobre o tema do amor, extrapoladas de filmes famosos de diferentes épocas. Di Martino constrói uma viagem surreal de carácter icónico da cultura pop americana através de uma imagem sentimental coletiva partilhada na era contemporânea através do cinema, da música e da televisão.

Moonbird (2022) - 25'
Segundo o artista, o filme é como uma "ópera" que utiliza samples de instrumentos musicais antigos conservados no Museo e Biblioteca internazionale della Musica em Bolonha, retrabalhados e enriquecidos com gravações ex-novo. O protagonista do filme é Amedeo, um botânico que vive na gaiola dourada de um palácio do século XVIII, cujos interiores estão repletos de mobiliário sumptuoso e cobertos de frescos de pássaros exóticos; a contraparte artificial, por mais sublime que seja, das aves que voam no céu, representando o mundo desconhecido para além dos limites da propriedade.